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A Educação Sensível e a experiência com a Educação Musical: Que cidadão queremos formar?

Atualmente, há uma forte busca por uma educação de qualidade, preocupada tanto com o ensino quanto pela inovação dentro da sala de aula, o que remete à necessidade de ultrapassar a visão tradicional em educação. Neste contexto, é importante ter um olhar mais apurado a fim de perceber o que está em volta, o que está submerso nas situações cotidianas, o que está envolvido na relação com os outros que fazem parte desses processos formativos. Para isso, Duarte Junior (2000) mostra-se contundente quando se refere à “educação do sensível”, utilizando este termo para resignificar a percepção dos educadores, levando-os a atentar para um saber primeiro, ou seja, um saber ligado aos sentidos, a intuição, a criação, ao onírico, e que ao longo do tempo, foi sendo relegado a um segundo plano em favor do conhecimento cotidiano. Nesse sentido, faz-se necessária a construção de outra lógica de pensar a educação do presente e de vivenciar os acontecimentos; não só vivenciá-los, mas deixar que atravessem nosso modo de pensar, agir e sentir. Percebê-los por outro prisma que não o da lógica habitual. Transpor esses acontecimentos é permitir envolver-se, sem querer de imediato formar uma opinião, ou um conceito - isso é experiência. Quando faço referência a experiência, e aos saberes construídos através dela, coloco em evidência a metodologia de Educação Musical desenvolvida pela Impare Educação, a qual trabalha a motivação, a atenção, a disciplina, a persistência, entre outras. Deste modo, como a experiência está estritamente ligada ao que nos acontece, Bondía (2002, p. 24) coloca que "A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço." Seguindo esse pensamento, a experiência é fundamental à formação do sujeito. Mas para que sujeito? Para o sujeito da experiência, que é aquele sujeito que sofre, que se afeta, que se indaga, que se questiona, e por isso não permanece rígido, erguido, seguro em seu modo de pensar e agir. O sujeito da experiência é aquele se “ex-põe”, o que deixa que algo lhe aconteça, e como aponta Bondía (2002, p. 25): “que simplesmente ‘ex-iste’ de uma forma sempre singular, finita, imanente, contingente”. Assim, falar sobre experiência em Educação Musical é falar de uma forma única, genuína, que está contida na natureza de um ser da experiência, ou seja, ser da experiência é o ser que existe e que se deixa atravessar pelos acontecimentos. Pela experiência com a música, esse sujeito se forma e se transforma, estando aberto ao seu próprio processo de transformação. Pensando assim, é preciso refletir de que maneira experimentamos e nos relacionamos com o mundo e de que maneira estamos trabalhando estas habilidades em nossos alunos. Para isso, o autor Teixeira Coelho (1994), apresenta-nos três modos de relacionamento entre o indivíduo e o mundo: o primeiro é através do sensível e do qualitativo; o segundo é entre o indivíduo e o mundo através das coisas e eventos e o terceiro modo, o indivíduo relaciona-se com o mundo através de um sistema de convenções. É falso pensar em relações construídas em um processo iniciado pelo terceiro modo, pois o primeiro modo é a base para o segundo e, os dois primeiros, condição para o terceiro. Não podemos começar uma casa pelo telhado, precisamos impreterivelmente do alicerce, neste sentido é fundamental desenvolver nos alunos as competências socioemocionais como autoconhecimento, a amabilidade, a autoconfiança, o autocontrole, a autonomia, a comunicação intra e interpessoal, a cooperação, o engajamento. Competências tão importantes e esquecidas dentro de um currículo escolar, uma vez que boa parte dos esforços do sistema educacional estão voltados para o terceiro modo e quase nada para o segundo e o primeiro. Penso ser de grande importância elaborar e desenvolver estas formas de relacionamento, abordados por Teixeira Coelho, nas escolas para se chegar a uma Educação Sensível através das experiências, servindo de mola propulsora para a construção de uma vida plena e integral. Por isso, a educação musical e o saber sensível desenvolvido por ela, podem muito na educação.

 

REFERÊNCIAS: BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Campinas: Leituras SME, 2002. COELHO, Teixeira. O Imaginário e a Pedagogia do Telhado. Revista Em Aberto. Brasília, ano 14, n. 61, jan./mar. 1994. DUARTE Junior, João Francisco. O sentido dos sentidos: A educação (do) sensível. Tese de Doutorado em Educação. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP (2000).


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