Em julho de 2024, comecei a participar do programa Educando para a Vida, um programa da Impare Educação, e pude perceber o quanto a inclusão estava inserida em todos os materiais. Conforme ia conhecendo as propostas do projeto, me chamava muito a atenção que elas eram elaboradas e adaptadas para crianças com diferentes necessidades. Esse cuidado e empatia foram me instigando a conhecer e aprender mais sobre a inclusão dentro da sala de aula, refletindo sobre qual é o verdadeiro significado de incluir. Enquanto educadora, sempre busquei ter um respeito muito grande às crianças incluídas, oportunizando momentos em que elas não se sentissem excluídas da turma. Pelo contrário, queria que elas se sentissem parte daquele lugar e capazes de realizar a mesma atividade, com formato acessível e respeitoso para elas. Essa sensibilidade fez com que eu buscasse mais informações a respeito e pudesse, por meio do meu trabalho, propor a inclusão cada vez mais no nosso dia a dia, fazendo com que ela também fosse levada para fora da escola, junto das famílias.
A Associação Santa Zita de Lucca, na qual trabalho, promove todos os anos a Feira do Livro Institucional, um evento de extrema importância e de incentivo à escrita, leitura e interação com as famílias. Foi pensando nessa interação família-escola que, junto com as crianças e com o auxílio da minha educadora assistente, Amanda Mello, foi construído um livro com a escrita em braille.
Esse livro, que teve como título “Memórias de Amor”, foi criado e ilustrado pelas próprias crianças. Nele, elas falavam de seus sentimentos e relembravam memórias afetivas de momentos que tiveram na escola. Foi uma oportunidade para que elas pudessem expressar suas emoções por meio de falas e desenhos. Ao mesmo tempo, foi uma brecha para mostrar que a inclusão pode ser inserida em propostas pedagógicas que saem da sala de aula.
Acredito que a inclusão nas escolas deva ir além das paredes: deve estar presente nas propostas pedagógicas, mas principalmente nas pessoas. E nada melhor do que as crianças para ensinar sobre amor e respeito.
A proposta do livro foi justamente apresentar a escrita em braille para as crianças, já que muitas não conheciam esse sistema, e mostrar que, mesmo que não tenhamos nenhuma criança com deficiência visual na escola, ainda assim precisamos pensar em diferentes formas de inclusão. Trabalhar a inclusão é exercitar a empatia a todo momento.
Antes de criar o livro, procurei a Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS), onde pude conhecer mais sobre essa escrita e o quanto é necessário que ela esteja não somente em livros, mas em todos os locais que frequentamos. Após conhecer todos os desafios que as pessoas com deficiência visual passam no dia a dia, eu tive ainda mais certeza do quanto era necessário repassar a importância da escrita em braille na nossa sociedade. Ao falar da proposta, fui presenteada com toda a impressão em braille para o livro, o que me deixou ainda mais com vontade de levar o nosso projeto a lugares mais distantes.
O livro ficou em exposição na nossa escola durante a nossa 20ª Feira do Livro Institucional, e as famílias puderam visitar e conhecer. Foi muito lindo ver as crianças explicando para os familiares o porquê de o livro ser em braille. Ver eles pedindo para os pais fecharem os olhos e sentirem o relevo em cada página foi emocionante.
E foi com esse projeto do livro e com todo o incentivo e confiança da minha Coordenadora Pedagógica Priscila Lima que, com muita alegria, participei do II Congresso do programa Educando para a Vida. Mais uma vez, pude falar e mostrar a transformação que a Impare Educação causou em mim enquanto educadora. Tive novamente a chance de apresentar nosso livro para tantas pessoas e cidades diferentes. Foi como se eu estivesse repassando cada fala, cada emoção e cada aprendizado das minhas crianças para todos que estavam assistindo.
Foi uma experiência inesquecível.
A sensação foi de que nossa turma plantou diversas sementinhas por todos os cantos. Que conseguimos alcançar o que queríamos, que era levar para fora da escola tudo o que aprendemos sobre incluir.
Para mim, como educadora, fica o sentimento de que o olhar sensível que a Impare teve ao planejar as atividades do programa para crianças inclusivas se cruzou com o meu. E que esse incentivo foi o combustível para que eu fosse atrás de mais conhecimento e mais preparo. Quando vemos a inclusão acontecendo de forma respeitosa, entendemos que estamos percebendo a diversidade humana e aceitando as diferenças, que essa nossa atitude envolve estar atento às necessidades dos outros e de se colocar no seu lugar para ajudá-los a superar os desafios. Também entendo, enquanto educadora, que mais do que falar em sala de aula, precisamos também construir um caminho pedagógico da inclusão com todos, ou seja, com alunos, pais, educadores e sociedade.
Como o nome já diz, as “Memórias de Amor” que as crianças escreveram com certeza ficarão marcadas por muito tempo e em muitas pessoas. Serão memórias de empatia, respeito, aceitação, cuidado, incentivo, conhecimento e inclusão.
Afinal, inclusão é amor.
A maior gratificação, como educadora, é perceber que um ato de amor pode transformar muitas vidas. Inclusive a minha.



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